https://cnnportugal.iol.pt/kursk/soldados/enviam-grupos-de-russos-e-quase-ninguem-fica-vivo-e-no-dia-seguinte-vem-um-grupo-novo-e-acontece-o-mesmo-os-russos-seguintes-parecem-nao-saber-o-que-aconteceu-aos-russos-anteriores/20241203/674ed20bd34ea1acf2715b38Enviam grupos de russos e matamos quase todos. E no dia seguinte vem um grupo novo e acontece o mesmo. Cada russo que vem parece não saber o que aconteceu a cada russo que veio"
Sumy, Ucrânia CNN - Uma operação ucraniana durante a madrugada na região russa de Kursk nem chegou a ser um tiroteio, mas revelou a intensidade da batalha em território do Kremlin. Cinco russos avançaram na cinzenta madrugada de domingo, mas, como mostram as imagens térmicas de drones, foram mortos ou feridos por um drone quando tentavam esconder-se nas árvores.
“Tenho a impressão de que os russos têm pessoas ilimitadas”, afirma Oleksandr, comandante de uma unidade do 225º batalhão de assalto ucraniano, enquanto descreve o confronto - conta esta história 11 horas depois do sucedido, num café na cidade ucraniana de Sumy.
“Enviam grupos e quase ninguém fica vivo. E, no dia seguinte, os grupos voltam a deslocar-se. Os russos seguintes, ao que parece, não sabem o que aconteceu aos russos anteriores. Vão para lá, para o desconhecido. Ninguém lhes diz nada sobre o assunto e ninguém regressa.”
Oleksandr e os dois colegas com quem está sentado têm problemas de audição devido aos constantes bombardeamentos. Providenciam uma visão rara da ocupação ucraniana de Kursk, que durou quase quatro meses.
A invasão de agosto constituiu um raro sucesso tático e um ganho estratégico para Kiev, embora a utilização de um número significativo de homens e blindados no assalto tenha levado a críticas de que a escassez criada pela invasão contribuiu para o avanço da Rússia na frente oriental do Donbas.
Os defensores da operação de Kursk sugerem que esta proporcionou a Kiev uma vantagem vital para quaisquer futuras conversações de paz - que podem vir a ser iniciadas pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump -, o que significa que a Ucrânia precisa de manter uma posição em Kursk pelo menos até à primavera.
Oleksandr mostra-se confiante de que a sua unidade consegue aguentar, mas tem menos certezas quanto à razão por que o deve fazer. “Não sei qual é realmente o objetivo. Talvez devêssemos andar por aqui durante quatro meses, dar meia volta e ir embora, por exemplo... Mas se o objetivo é aguentar até um certo ponto, nós aguentamos.”
Questionado sobre qual é a sua mensagem para Trump, Oleksandr exige que o Ocidente mantenha as garantias de segurança que deu à Ucrânia em troca de Kiev ter desistido das suas armas nucleares, num tratado de 1994 conhecido como Memorando de Budapeste, no qual a Rússia, o Reino Unido e os Estados Unidos deram garantias à Ucrânia, à Bielorrússia e ao Cazaquistão de forma a que desistissem das armas nucleares da era soviética.
“Tiraram-nos as armas nucleares, prometeram-nos o vosso teto”, diz Oleksandr. “Mantenham a vossa palavra. Estamos a ser massacrados e vocês continuam a tentar fazer jogos para defender os vossos interesses. Tiveram de dar tudo o que podiam para acabar com esta guerra em dois dias. Quem acreditará nas palavras dos Estados Unidos ou da Inglaterra, que se estão a mijar em frente à Rússia? Perdoem o meu inglês”, afirma a rir-se.
Os recentes ataques russos na sua região de Kursk revelaram-se tão ineficazes como dispendiosos, acrescenta. Por outro lado, as autoridades ucranianas admitiram que 40% do território que conquistaram no final do verão foi entretanto recuperado pelos russos. A unidade de Oleksandr não dormiu durante três dias, explica, nem saiu da linha da frente durante oito meses e esteve envolvida em combates ferozes nas cidades ucranianas de Bakhmut, Avdiivka e Chasiv Yar.
Segundo Oleksandr, as tropas russas que os ucranianos enfrentaram em Kursk eram uma mistura de paraquedistas bem treinados da 76ª Brigada, mas também de chechenos menos organizados e de mercenários africanos. Mas não viu qualquer sinal dos 12.000 soldados norte-coreanos que, segundo o Pentágono, foram enviados para Kursk. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse também à agência noticiosa japonesa Kyodo, no domingo, que alguns norte-coreanos tinham sido mortos pelas forças ucranianas e que acabariam por ser utilizados como “carne para canhão” pelo Kremlin.
“Quando os apanharmos ou virmos um corpo”, afirmou Oleksandr, “então terei a certeza de que eles estão aqui”.
Três semanas antes, a sua unidade tinha enfrentado um ataque de 40 veículos blindados e cerca de 300 soldados de infantaria, conta. O seu comandante de drones, com o indicativo “JS” de JavaScript, disse que a unidade matou 50 russos nesse dia. “Os veículos que conseguiram passar descarregaram a infantaria”, relatou JS, “depois acabámos com a infantaria”. “E foi assim durante quase 24 horas, sem dormir, e no dia seguinte acabámos com aqueles que se conseguiram esconder do bombardeamento do primeiro dia.”