Tentando ficar no assunto, acho que há uma diferença muito grande entre o delta do Mekong a o teatro operacional na Guiné.
Acho que a primeira grande diferença é o ponto até onde chegavam as marés do oceano atlântico. Em várias operações as tropas portuguesas tinham de lutar condicionadas pelas marés. As regiões de que falo, são as áreas de lodo que ficam quando a maré está vazia.
No delta do Mekong havia operações nos arrozais, em áreas longe do mar.
Alem disso, não podemos comparar a dimensão do Vietcong, com um exército de 300.000 homens em 1963 (mais que toda a população da Guiné portuguesa) com o PAIGC cuja estrutura na sua globalidade se estimava entre 4.000 a 7.000 pessoas em 1970. Para piorar a situação o PAIGC teria que transportar armamentos por áreas de maiorias étnicas que lhe eram adversas.
O que eu estou a dizer é que não vejo PT-76 na Guiné-Bissau em lado nenhum, embora a sua utilização até pudesse fazer algum sentido.
A Guiné-Bissau realmente recebeu PT-76, mas já os portugueses se tinham ido embora há cinco anos quando isso aconteceu.
A Guiné-Bissau recebeu peças de artilharia de 130mm mais modernas, mas já os portugueses se tinham ido embora.
O que tento afirmar é que muita da guerra na Guiné, não foi uma guerra de libertação, mas sim uma guerra secreta entre a Guiné-Conakry e Portugal.
Aliás, de todos os países africanos, a Guiné-Conakry foi daqueles com o qual sempre tivemos relações mais dificeis, mesmo depois do 25 de Abril.
Sabemos que o PAIGC tinha bases nas fronteiras, mas sabemos também que o Senegal dava ao PAIGC apoio moral e muito pouco apoio militar. Exemplo disso foi o ataque a Gilege, que foi feito por militares do PAIGC vindos do sul.
É evidente que isto também tem a ver com as etnias dominantes, já que os mais belicosos de todos eram os balanta, e esses viviam mais no sul que no norte.
No interior da Guiné-Bissau, com população de maioria muçulmana, os portugueses tinham acesso onde queriam.
O problema era a ligação entre a costa e as regiões do interior.
OPAIGC atacava essas vias de comunicação como podia, mas mesmo num país pequeno era dificil carregar armamento às costas.
Daí que houvesse necessidade de utilizar meios mecanizados.
Mas para utilizar meios mecanizados isso implica a existência de uma estrutura minimamente organizada que não se padece com grandes movimentações.
É necessário um parque-auto movel, para suportar mesmo que apenas uma ou duas PT-76, utilizadas para rebocar artilharia.
Como disse anteriormente, acredito que as PT-76 são um mito, e que são uma invenção (OU SEJA, UMA MENTIRA) destinada a explicar como o PAIGC transportava a artilharia que era utilizada contra os portugueses.
Se as peças de artilharia de 122mm da Guiné-Conakry eram disparadas do lado de lá da fronteira (e considerando a distância, era quase forçoso que estivessem do lado de lá da fronteira) então não haveria nenhuma necessidade de PT-76 e estaria explicado o logro.
Se as tropas portuguesas em Gilege, estiveram debaixo de fogo, se a contra-informação lhes tivesse dito que o PAIGC tinha T-34 ou PT-76, então, perante um ataque pesado de artilharia e com a possibilidade de depois ter que enfrentar blindados (como determinava a doutrina russa), um comandante com pouca formação, pouca informação e quase nenhum contacto com o escalão superior de comando, tomou a decisão de abandonar as posições que detinha e que eventualmente poderiam ser defendidas.
Ou seja: Como já deve ter percebido, eu estou a dizer que existe a possibilidade de a guerra na Guiné ter sido perdida não para um glorioso e libertador PAIGC (que hoje sabemos que não passava de uma organização de bandidos que se matavam uns aos outros, como aconteceu com o Amilcar Cabral) mas sim para um inimigo não declarado, a República da Guiné-Conakry.
Portugal não podia reagir contra a Guiné-Conakry, porque isso era internacionalizar o conflito e justificar um aumento da intervenção da rússia comunista em África. Os americanos não queriam isso de maneira nenhuma, pelo que Portugal estava de mãos atadas. Em 1970 tentou matar o Sekou Touré, mas a operação falhou, pelo que Portugal ficou sem opções, com um inimigo não declarado à porta.
O receio da aviação do PAIGC era essencialmente receio da aviação da Guiné-Conakry. Por causa da Guiné-Conakry foram desenvolvidos planos de defesa para uma guerra convencional. Por causa da Guiné-Conakry Portugal começou a negociar a compra de Mirage, para poder responder aos MiG-21 de Conakry, o que também seria feito com os mísseis anti-aéreos Redeye que chegariam em 1974.