Retirado do Portugal Diário em 2004/01/11
O projecto do Governo vir a utilizar veículos militares no combate aos fogos poderá sair mais caro do que o aluguer de meios aéreos a empresas privadas.
Comparando o custo de voo à hora, fica mais barato alugar um helicóptero civil do que voar num Puma da Força Aérea Portuguesa (FAP).
Voar num Puma custa cerca de 3000 euros por hora, excluindo todos os custos do piloto, disse uma fonte da Força Aérea ao PortugalDiário. Já um helicóptero ligeiro, segundo os dados fornecidos pelo Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros (SNPCB), fica por menos 600 euros por hora e vem com piloto incluído.
A grande diferença é que o Estado tem que pagar as horas de voo às empresas privadas quer os helicópteros alugados estejam a voar, quer estejam parados. Isto significa que a rentabilidade do projecto do Governo de utilizar dez helicópteros da FAP no combate aos fogos vai depender da intensidade e frequência dos incêndios e do custo de reconversão destes veículos (com baldes e tanques).
Um dos objectivos desta "reciclagem" dos meios aéreos «é [o combate às chamas] ser mais rentável», defendeu o presidente do SNPCB, general Paiva Monteiro. No entanto, sublinhou ao PortugalDiário que uma decisão final ainda não foi tomada e que «um grupo de trabalho vai ser criado para estudar todos os aspectos deste projecto».
Uma das críticas duma das empresas, que aluga helicópteros ao Estado, é a «total inexperiência» do Ministério da Administração Interna nesta matéria. «Estamos neste negócio há vinte anos. Não se aprende a gerir o combate aos fogos pelo ar da noite para o dia. É um trabalho de risco que inclui salvar pessoas cercadas pelas chamas», argumentou o representante da empresa que preferiu ficar no anonimato.
Mas Paiva Monteiro não considera a falta de experiência um obstáculo: «Não podemos rejeitar um projecto por essa razão. Senão, nunca se concretizavam ideias novas».
O presidente do SNPCB argumentou ainda que é preciso seguir o exemplo do resto da Europa. «Os aviões da Força Aérea alemã ajudaram-nos a combater os fogos no verão passado. Se os veículos deles servem porque é que os nossos não hão-de servir?» defendeu.
José Carlos Coelho, representante da Heliportugal, que alugou uma dezena de helicópteros ao Governo em 2003, insistiu que a solução mais rentável para o executivo seria renegociar os contratos com as empresas privadas. «O Estado não tem uma visão economicista. Em vez de celebrar contratos anuais, deveria fazer acordos de cinco anos», defendendo que o preço desceria «significativamente». Rematou ainda que «o aluguer de helicópteros não é o negócio "chorudo" que muitos julgam».
Pumas utilizados no Ultramar são seguros
A garantia é dada pelo porta-voz da Força Aérea, coronel Carlos Barbosa. Apesar do tempo de vida dos Pumas ter chegado ao fim em termos militares, «os helicópteros [com trinta anos nas costas] estão em perfeitas condições para voar, dada a forma rigorosa como é feita a manutenção», explicou o coronel ao PortugalDiário.
O porta-voz deixou bem claro, contudo, que «as necessidades operacionais» da Força Aérea exigem que se substituam estes veículos agora. Os novos helicópteros comprados pelo Ministério da Defesa, acrescentou Carlos Barbosa, «são mais fiáveis, têm menos necessidade de manutenção e acabam por ser mais económicos».
Estas reacções são uma prova de que o caminho que o governo pretende seguir é o correcto. Os interesses privados que ao longo dos anos receberam milhões para o combate aos fogos, com os resultados que todos conhecemos, sentem-se agora ameaçados por esta medida.
Espero que o governo vá em frente com ela doa a quem doer e espero até que ela se torne mais ambiciosa (utilizando também meios aéreos mais capazes).
Que bom seria ver na nossa FAP CL’s 415 !!!