Caro Pedro (e Eduardo Ribeiro),
Assim já consigo falar consigo melhor, sim. Entenda-me, que respeito as suas opiniões não obstante discordar de algumas delas.
Começando pelo fim do que escreveu, a minha ideia desde a primeira mensagem era centrar a questão novamente na pergunta inicial e isso só pode acontecer se não houver outro ruído pelo meio. O Eduardo Ribeiro não precisa desistir do que seja o seu objectivo profissional apenas porque lhe dizem que há "fantasmas". Tem de decidir com base nos dados reais que tem o que pretende fazer. Penso que concordamos?
No que toca a minha opinião ser paga, referia-me a assuntos de política internacional para os quais me convidou. Estou no sector privado e tenho uma empresa que se dedica a acompanhar clientes na sua expansão internacional e as análises de ordem política, económica e social são aí fundamentadas e objecto de uma análise que se paga. Não vejo o porquê de partilhar o conhecimento a esse nível de graça. Sim, de facto é uma opção empresarial minha e penso que também concorda que é uma liberdade que me assiste?
Quanto a factos do que referiu:
1. Sim, caro Pedro. Das melhores pessoas e profissionais que já encontrei na minha vida são pessoas/profissionais que trabalham no Serviços. Por muito que tenha encontrado também de "outras" as primeiras devem-me o máximo respeito e consideração. Um grande abraço daqui para esses profissionais que sendo pessoas normais fazem de tudo para continuar a acreditar que "vale a pena";
2. A hierarquia tem figuras conhecidas pelo público, certamente. A primeira é o Sr Primeiro Ministro, o decisor de topo e máximo responsável. Outras figuras de topo são nomeadas politicamente e isso também é público. Depois temos aqueles que por questões transversais e natural decorrer de processos internos e externos (processos no sentido de situações ou imprevistos) acabam por ser referidos na comunicação social e assim se fica a conhecer o nome. Depois temos ainda as chefias intermédias e os que são promovidos internamente (justa ou injustamente, mas alguém tem de o ser...) e se mantêm no anonimato, que são a maior parte. Depois temos muitos técnicos que trabalham nos Serviços e cumprem ordens e dão o seu melhor ou não e são por isso reconhecidos num círculo muito limitado ou não. A liderança dissolve-se em "lideranças" de topo, intermédias e de "postura de exemplo" pela hierarquia dos Serviços. Não podemos generalizar com base nesta ou naquela notícia que é escrita sobre este ou aquele elemento de um determinado Serviço. É extremamente injusto para com pessoas que dão tudo e se lhes pedirem e derem ferramentas darão ainda mais. É vergonhoso que se faça isso e criminoso até pois estamos a lesar o Interesse Nacional, minando a confiança do público nos que zelam pela sua segurança e denegrindo Portugal aos olhos dos nossos aliados. Não devemos acreditar em tudo o que se escreve, é a primeira regra nesta área.
3. Quanto ao Dr Jorge Silva Carvalho, há quem tenha razões de queixa e quem não tenha ou tenha mais ou menos. Mas isso passa-se com qualquer pessoa e cidadão normal... A minha opinião pessoal mais profunda reservo-a mas posso dizer que tenho uma ou duas coisas que gostei nas sua passagem pelo SIED e uma ou duas que desgostei. Mas isso é assunto para uma conversa pessoal entre ele e eu caso nos encontremos. De resto, profissionalmente tem um currículo como poucos e obrigação de ter "acumulado" muita experiência na área. Deve ser um elemento a considerar de valor. E aqui sei que vou ter alguns amigos a vir ter comigo nestes dias próximos a pedir que esclareça. Não há muito a esclarecer... Não concordo que se condene alguém em praça pública. A Justiça tem um papel fundamental e deve ser respeitada. Se for culpado que pague pelo que fez e se for inocente que seja de alguma forma reabilitado e compensado pelo que passou. É maçon, sportinguista, benfiquista, portista? Não sei nem me interessa. Isso influenciou a sua postura e levou a ilegalidades? Não sei e não me interessa pois compete à Justiça apurar. Se tiver acontecido algo de menos recomendável, deveria ter havido instrumentos de alerta ou controle. Não havia? Aprendam e implementem-nos. Contudo não esqueçam que estamos a lidar com profissionais e que merecem todo o nosso respeito, apoio e confiança e não que se parta do princípio que são criminosos em potência. Só assim esses profissionais conseguirão ter as ideias claras e a tranquilidade para proteger o Interesse Nacional.
4. Quanto ao Dr Neiva da Cruz nem percebo a questão... Se é legalmente exigido que se declare que se pertence ao desportivo da coruja ou associação de defesa das minhocas transmontanas que se faça. Caso não, que recuse. Mas se for, também não deve ser algo feito em praça pública mas matérias de Segurança Nacional com as quais se lida internamente, quer a nível de registos para memória futura ou incompatibilidades detectadas. Imagine-se as vulnerabilidades criadas num Serviço de Informações em que se coloca tudo numa base de "o público tem o direito de saber"... O público tem o direito, sim, de saber que tudo está de acordo com a lei e de facto existem instrumentos criados para esse efeito. Não percebo aqui o problema, francamente.
5. Ambos os profissionais em cima foram meus chefes e desejo-lhes todo o sucesso pessoal e profissional, como o faço com todos os colegas que tive o enorme prazer e honra de conhecer.
6. Eu não dei a entender haver desfasamento entre as necessidades e a realidade dos Serviços. Eu disse que havia. Mas isso não é segredo nenhum e todos sabemos isso. Em Portugal a administração pública central tem carências orçamentais que influenciam de forma grave a sua actuação e comprometem as suas capacidades. Não vejo que os Serviços sintam algo diferente. Há falta de verbas que coloquem as suas capacidades num nível de correspondência mínima ao que é exigido hoje por esta nova realidade política internacional, económica e crescentes ameaças. Comparem os orçamentos de Serviços de Informações e algumas Forças de Segurança com as missões que lhes são confiadas. Façam as contas (imaginárias) como se fossem vocês a gerir e vejam o que dá por cabeça e o que sobrará para missões... Dizer que o Estado tem de investir bastante mais na Intelligence e Segurança em Portugal é segredo?! Mas então não o sabem já todos e não é óbvio?! Dizer que não há sintonia entre o que é percepcionado pela classe política e as necessidades extremamente urgentes dos Serviços é segredo?! Mas isso não sabem também já todos?! Agora, tem é de se falar nas soluções, visto que para saber os problemas é só falar com os profissionais. Eu por mim, estou disponível e sei que outros também estarão para auxiliar...
Eduardo Ribeiro, procure seguir a sua vida profissional sem se deixar influenciar muito pelo ruído. A minha opinião é tão válida como a do Pedro E. ou de outra pessoa qualquer, por isso pratique já o que um bom analista faz: pesquise, recorte e analise com a devida distância todos os dados. No final, decida e vá em frente seja qual for a decisão... Desejos de muita sorte e felicidades.
Caro Pedro, nem me parece que você seja má pessoa (pelo contrário) e ainda menos alguém com pouca cultura ou informação ao dispor. Fico surpreso por ver tanta raiva e indignação em explosão permanente. Fico curioso com o que desperta isso. Estou ao dispor sempre que quiser falar, mesmo em privado. Quem sabe? Pode ser que até nasça alguma amizade daqui.
Forte Abraço!
Mike