As faltas de pessoal são endémicas em quase todas as forças armadas, mas notam-se mais naquelas que já foram desmesuradamente grandes.
Eu estive numa unidade que era essencialmente de formação, que inicialmente tinha quatro companhias, duas delas de instrução, com três incorporações por ano.
Depois passou a ter apenas uma companhia de instrução com três pelotões de +/- 30 homens. E na altura o comandante de companhia era normalmente um aspirante a oficial, que substituia um tenente que só estava de serviço de quando em vez.
Só a CCS tinha um comandante que ou era um tenente ou um capitão. De resto, a penuria de pessoal era já normal.
Daqui resultava que uma unidade essencialmente de formação, tinha a maior parte do pessoal na CCS e tinha que receber dezenas de homens a cada incorporação, apenas para fazerem guardas ao quartel...
Estes "enquilosamentos" foram a norma durante muito tempo...
O caso da marinha porém, é diferente. Porque há muito tempo que ao contrário do exército, tinha menor dependência do SMO. Agora a situação é outra. Se um dos ramos com menos dependencia do SMO está com estes problemas, isso quer dizer que não estamos numa situação de zero naval...
Estamos numa situação de pre-ruptura, em que já se passou do ponto de não retorno, como era afirmado no programa de rádio referido acima.
É referida uma ocorrencia há anos atrás, em que o pessoal técnico tinha que levar ferramentas de casa para bordo, para poder trabalhar em condições...
São estes tipos de ocorrência que fazem os homens dar um "berro", quando sabem que o barco não está em condições, quando já fizeram mais que o que deveriam fazer, quando já não adianta trazer mais material de casa...
Muitas vezes o sacrificio das pessoas não é reconhecido, vão fazendo, porque acaba por haver um espirito de corpo e de entreajuda.
Se estão todos no mesmo barco, então é melhor que se evite que ele afunde...
No NRP Mondego, uma das coisas que salta à vista, é que o comandante do navio era novo.
Quando o comandante sabe o que se passa, e reconhece o esforço que é feito pelos seus subordinados, as coisas vão andando.
Quando aparece um maçarico, que acha que sabe dar ordens, mas não entende que está numa jangada que flutua porque a guarnição faz das tripas coração para a manter à tona, é meio caminho andado para o que aconteceu ...
Não passa pela cabeça de ninguém, que mais de uma dezena de homens se tenham rebelado, apenas por capricho...
Agora ...
Punição terá sempre que haver, porque o que ocorreu foi realmente grave.
Mas ao mesmo tempo serviu para que algumas pessoas entendam que o país já não tem marinha há anos...
E digo algumas, porque a realidade é que a maioria do Zé povinho, não quer saber disto para nada ...