Ontem andei a ver AOR na net e há vários que vão sair de funcionamento este ano. Alguns nos EUA, os já conhecidos no RU, um em Itália, um no Canadá e outro (de dois) em França.
Fiquei assustado porque os italianos e franceses já são dos anos 80 e são mais pequenos que os americanos e os Wave. E o francês até foi reestruturado e serve de AOR e de navio de comando. O canadiano até esteve por cá mas não pode ser utilizado em cenários de guerra a sério porque era um navio civil que foi reconfigurado.
Também tinha ido dar uma vista de olhos rápida em várias marinhas NATO, e quase todas as que vão substituir os seus reabastecedores, têm AORs com médias de idade de 30 anos. Apesar de para aquilo que a nossa MGP está habituada, 30 anos ser como novo, a realidade é que não é viável que sejam navios tão velhos. Para não falar que a maioria destes navios possui uma guarnição enorme.
Com isto, e se considerássemos a aquisição de dois AOR em segunda-mão, com guarnição relativamente reduzida, e relativamente jovens, talvez só mesmo os Wave.
Se a ideia for navios novos, sejam eles AORs puros, sejam eles uma espécie de JSS/MRSS, seja o que for, a questão do dinheiro mantém-se. Onde vão conseguir dois navios novos, por um orçamento combinado de 300 milhões ou menos.
Assim de viés, fico deveras interessado em saber para que queremos dois navios reabastecedores, para uma marinha constituida por navios de patrulha costeira e patrulhas oceanicos que pelas suas características (reduzida velocidade de deslocamento e baixo consumo) são navios de grande autonomia.
Bom, lógica lá terá alguma já que ter apenas um navio reabastecedor, limita muito a sua disponibilidade. Também para a NATO, é sabido que a falta de navios reabastecedores é uma lacuna grave. E não é só para abastecer de combustível, é para abastecer com munições de vários tipos, permitindo que as forças tarefa fiquem no mar na área de operações durante mais tempo sem terem de voltar a um porto.
Entretanto, não sabemos que tipo de navios serão realmente, sendo que 2 reabastecedores puros, só se forem em segunda-mão, porque é financeiramente impossível ter os ditos navios por uma verba tão baixa.
A capacidade logística terá sempre que lá estar e dessa a marinha não pode abrir mão, que quiser chamar-se de Marinha em vez de guarda costeira.
Os reabastecedores já contribuem com uma boa capacidade logística. E a nível de logística no mar, são superiores ao LPD, tendo o LPD vantagem é na contribuição logística para terra.
Partilho aqui um comentário que me foi feito sobre aqueles navios do tipo LST, depois de colocar a alguém com algum tipo de conhecimento nestas coisas qual seria a vantagem desses meios.
A resposta foi que, entre as principais desvantagens, está a quase impossibilidade de os utilizad nas ilhas atlanticas, que são na sua maioria constituidas por costa rochosa e ingreme.
Esta é a razão porque os LPD sempre foram referidos e considerados como alternativa, porque pequenas lanchas de desembarque podem com muito mais facilidade efetuar operações de desembarque que um navio pensado para desembarcar tanques ou carros pesados.
LSTs modernos também conseguem lançar lanchas de desembarque pequenas, 2 a 4 delas, dependendo do modelo. Com a vantagem de que são muito mais baratos que o LPD, o que permite ter mais navios ao serviço, e a lançar mais lanchas, por exemplo, a apoiar duas ilhas em simultâneo.
E ainda tem capacidade Ro-Ro:
Resumindo, é uma não-questão. Com o acréscimo, novamente, de que este tipo de navios, pode desempenhar um maior leque de missões no dia a dia, não sendo apenas úteis em caso de um mega desastre, ou de um desembarque anfíbio. E ao serem mais numerosos, conseguíamos ter sempre algum navio disponível 365 dias/ano, para resposta a catástrofes (e com jeito, tinhas mais do que um até).
Mais recentemente, há aparentemente quem considere que essa opção não precisa de LPD, desde que haja capacidade por parte do meio para desembarcar lanchas de desembarque, mesmo que o navio base não tenha uma doca alagável.
Lá está, um LST ou Crossover ou similar, consegue fazer isso sem problemas.
O LPD na sua função tradicional, só serviria para operações NATO, porque para utilização convencional, mesmo lanchas de desembarque pequenas teriam dificuldades em desembarcar meios mecanizados. Assim, o meio poderia ser utilizado para operações conjuntas, sendo uma participação portuguesa de peso, o que também daria ao país uma importância acrescida.
É caso para dizer que, para a realidade portuguesa, o LPD é "muita fruta" para a nossa Marinha, que não tem condições para o defender, nem o render (numa operação anfíbia de média/longa duração, o navio tem que ser rendido por outro equivalente, de forma a sustentar a força anfíbia de forma constante), não tem condições para amaciar o inimigo, nem para dar apoio aéreo à força desembarcada, nem a força desembarcada tem o equipamento necessário para se defender.
Para nós, e dentro de uma possível estratégia de defesa nacional, faz mais sentido navios mais pequenos, baratos e numerosos, que permitam desembarcar forças leves nas ilhas, para as defender em caso de necessidade. A mesma lógica aplicar-se-ia caso surgisse a necessidade de defender Cabo Verde e/ou STP, e consequentemente os nossos interesses na região e livre navegação.
Um LPD de facto permite transportar forças mais pesadas, mas que nós nunca teríamos capacidade de sustentar logisticamente em território hostil, e sendo apenas um navio, ao ser danificado ou afundado, perdia-se 100% da capacidade anfíbia do país.
Para a NATO, tanto faz se contribuímos com um Mega Anfíbio, ou com 2 a 4 navios anfíbios mais pequenos. A NATO agradecia mais ainda, era se Portugal fosse capaz de contribuir com capacidades defensivas e ofensivas no mar, com fragatas modernas realmente capazes de render, em pleno conflito, alguns navios combatentes das principais marinhas europeias. Era bom que conseguíssemos enviar fragatas para uma força tarefa NATO, e que a nossa fragata não fosse vista como o elo mais fraco da frota.