O facto de permitir aos nossos caças operar sobre o Atlântico sem a limitação do seu raio de acção, é desde logo uma grande razão para ter estas aeronaves.
Os nossos caças, ou qualquer outra aeronave da FAP, tem capacidade de operar sobre o Atlântico com o apoio das bases locais, BA4 nas Lajes e AM3 no Porto Santo.
Um avião-reabastecedor podia permitir uma acção directa a partir de bases no Continente, é verdade, mas para isso precisavamos que um dos reabastecedores estivesse em prontidão permanente e tripulações em alerta 24/7, com a devida rotação de tripulações para descanso, isto tem custos para um uso que não sabemos se compensa.
Depois os caças iriam descolar para uma acção ar-ar ou ar-superfície, aqui quero salientar a falta de meios de vigilância do espaço aéreo e talvez marítimo para detectar as ameaças, enquanto que no arquipélago da Madeira a FAP já possui uma estação radar em funcionamento, no arquipélago dos Açores isso ainda não é uma realidade, a detecção das ameaças maritimas depende da quantidade de voos patrulha dos P3 e de meios navais da Armada no mar.
Isto é, se não soubemos que o "inimigo" está num certo local ninguém vai descolar, caças e reabastecedor, ninguém têm bolas de cristal para adivinhar.
Antes de mais, os meios de defesa dos Açores estarem dependentes de lá poderem aterrar para reabastecer, é suicídio estratégico. Um míssil de cruzeiro que destrua as pistas, et voilá, seremos incapazes de defender este arquipélago. E até parece que uma aeronave "invasora" vai esperar que os nossos aviões abasteçam nas Lajes.
Depois, a inexistência de um radar nos Açores já devia ter sido resolvida há muito tempo. Mas mesmo assim, nem era preciso o típico edifício com um radar gigante, algo como o Giraffe AMB ou o 4A resolviam parte do problema.
Mas mesmo um radar em terra não resolvia o problema na totalidade, um radar como os que temos para controlo de espaço aéreo têm um alcance que supostamente ronda os 300/400km, mesmo que arredondemos para 500km, um Bear em aproximação às Lajes à velocidade de cruzeiro, demorava menos de uma hora a lá chegar desde a sua detecção, nem dava tempo para os F-16 irem do continente até lá para os interceptar. Mas já estou a divagar.
Voltando à detecção de ameaças, no caso de aeronaves militares, geralmente a FAP é informada por aliados da NATO da presença de aeronaves militares na zona, e só assim conseguiria interceptar.
Por outro lado, no caso específico dos Açores, a maior ameaça seria de aeronaves vindas do Sul, pois não há aliados que nos sirvam de "aviso antecipado".
Mas ironicamente, a falta de meios de vigilância do espaço aéreo dos Açores, reforça ainda mais a necessidade que navios como NPOs tenham radares que permitam uma capacidade de busca aérea decente (50 a 100km).
Voltando ao MRTT, é preciso ver que não teríamos um MRTT numa espécie de QRA, nos mesmos moldes que os F-16, teríamos sim um numa prontidão de talvez 2/3 horas para apoiar os F-16 se necessário. Às vezes podia ser a diferença entre os nossos caças conseguirem regressar à base.
Dou até um exemplo hipotético. Lançamos os F-16 para interceptar uma aeronave militar, as coisas dão para o torto e os nossos caças são obrigados a largar os drop tanks (menos peso e arrasto) para executar manobras de combate. Sem os drop tanks, e se os F-16 estivessem demasiado longe de qualquer base, o MRTT permitia que voltassem a casa. E isto para mim tem uma importância estratégica enorme.