Portanto, segundo a tua análise o Super Tucano é uma plataforma eficaz?
Está difícil perceberes alguma coisa do que é dito.
O ST, tal como qualquer outro meio militar, é eficaz para umas coisas, ineficaz para outras. Existe uma grande diferença entre "eficácia" e ser milagreiro. A tua afirmação essencialmente coloca o ST como o grande diferenciador, ignorando todos os outros factores, como o treino das forças no terreno. Se achas que, as forças colombianas em 1998 e as mesmas em 2006 e anos seguintes, são a mesma coisa tirando a presença da aeronave divina, achas mal.
Nem mais, a culpa é totalmente nossa. E mudar essa situação só depende de Portugal. Não há mais variáveis, apenas zelar pelos interesses do país e negociar convenientemente nesse sentido. Diferente de prestar vassalagem...
Repara que prestar vassalagem, é o que se tem feito precisamente nestes negócios, e noutras questões não apenas ligadas à Defesa. É que com tantas décadas a "prestar vassalagem" aos americanos, conseguimos ir adquirindo meios militares de várias origens, e só não se adquiriu mais, por falta de dinheiro/orçamento*. Em contraste, em meia dúzia de anos a "não prestar vassalagem ao Brasil nem a ninguém", as únicas aquisições que se fazem de meios novos, são de produtos de um único fornecedor. Aliás, basta avaliar esta revisão da LPM, para se ver que o único acréscimo em termos de meio, serão reportadamente os ST e o 6º KC!
Eu defendo a compra imparcial, sempre que possível com concursos, com base em critérios técnicos, práticos e estratégicos.
*é a resposta fácil culpar os americanos de nos darem sucata. Mas a realidade é que sempre recebemos sucata, porque nunca tivemos um orçamento de defesa decente. Os americanos ficariam felizes da vida se, em vez de darem sucata, pudessem vender-nos equipamento novo (beneficiando directamente a indústria deles).
Se fôssemos um país que soubesse aproveitar o nosso potencial (bases, portos e estarmos a meio caminho entre os EUA e o seu supostamente principal inimigo) seríamos devidamente apetrechados pelo tio Sam.
Como infelizmente somos o que temos sido, lacaios e fantoches, aproveitamos zero.
Assim sendo, Europeus, PALOPS, CPLP, o que seja, provavelmente será sempre teoricamente mais vantajoso adquirir aí, até porque a nossa realidade não nos permitirá outros grandes sonhos.
Mas repara que, esse mesmo potencial, nem em termos de política de defesa, e investimento em meios, é atingido. Achas que num país Atlântico, que tem responsabilidade de proteger portos, bases aéreas, arquipélagos e vias marítimas, a prioridade são meios de COIN, seja para que cenário for? O que é que se tem dito desde sempre? Que comprar meio COIN para África, faria sentido
após todas as outras questões estarem resolvidas. O básico não está assegurado, e vamos investir em capacidades, digamos, suplementares.
Desde que seja com concurso, e "que ganhe o melhor", até pode ser israelita ou sul coreano. Essencialmente, queres fazer aquisições com base em critérios imparciais. Não é fazer aquisições com base na "marca" ou para fazer favores.
Não manda, mas se for considerado um produto "made in UE" poderá fazer a diferença.
E aí aumentariam os nossos benefícios.
Benefícios muito reduzidos, diga-se. Se na UE, os países com maior poder de decisão quiserem, vão preferir avançar com o projecto do A200M, feito inteiramente na UE e não apenas algumas peças feitas em Portugal e na Rép. Checa.
Para sermos moços de recados de quem, como tu dizes?
O que temos nós a ver com as decisões do Brasil? Não são soberanos?
Ou tinham de entrar todos no comboio da carneirada?
Os maiores clientes da Embraer estão nos EUA. Vai-se passar alguma coisa? ZERO.
Moços de recados? Estamos a falar de coisas a sério, como alinhamentos estratégicos em possíveis futuros "world changing events", como uma guerra à escala mundial, e onde convém saber de que lado estão os nossos "amigos". Estás a comparar Portugal servir de montra/moço de recados/entidade de marketing para um produto, com colocar em cima da mesa uma questão de relações multilaterais?
E o que tem o Brasil a ver connosco? Não somos um país soberano? Porque é que temos que seguir a carneirada, AKA, fazer o que eles querem para eles poderem vender os seus produtos cá?
As previsíveis são esta e outras do género porque guerras a sério ficámos à porta. Basta ver a actual e as últimas.
Quanto aos MANPADS, se forem armas anti tanque também retiramos as PANDUR?
Quanto ao meio ser limitado, em quê neste tipo de utilização?
Um país que nem munições tem quer adquirir caças de 5a geração? 20 ou 30 para ir para a frente de combate da guerra fria?
Entretanto andamos na RCA à boleia dos helis paquistaneses (acho eu) para proteger as nossas forças e de F16 a caçar avionetas no Alentejo...
É preciso é ter 2 ou 3 prontos para os desfiles, como os Leopards.
Como assim? És vidente? Como é que sabes que até futuras missões que tenham uma parte COIN, não se vão realizar em TOs onde não haja infraestrutura suficientemente perto do TO para operar aeronaves de asa fixa? Como é que sabes que mesmo nas missões em África não haja uma escalada dos conflitos, e que obriguem a algo mais que os ST?
Imagine-se andar a adquirir meios apenas para os cenários "previsíveis", previsões estas que são estritamente baseadas em suposições. Da última vez que se fez suposições na Europa, achou-se que nunca mais haveria guerra neste continente, e portanto não era necessário investir na Defesa...
Se o TO evoluir, no mínimo, adaptas a doutrina. Se o TO evoluir ao ponto em que a utilização de meios aéreos se torna inviável, vais ter que te adaptar, ou então dar à sola de lá. Esta lógica de adquirir um meio que é muita bom no cenário ideal, e depois se o cenário deixar de ser ideal, continua-se a usar na mesma (ser casmurro), não tem cabimento em lado nenhum. Imaginem no Iraque e Afeganistão, perante a ameaça de IED, os países participantes não se adaptarem à ameaça. Também nestas guerras contra o terrorismo, a ameaça de RPGs era grande, e como tal os países adoptaram as "gaiolas" para os seus blindados, e eventualmente, blindagem reactiva (e mais recentemente ainda, protecção activa).
Quanto a ter caças de 5ª geração, fico curioso para saber qual seria a alternativa. Como "não vamos combater na linha da frente da guerra fria, não precisamos", então o que comprávamos para a aviação de caça? Caças de geração 4.5, que custam o mesmo, ou propõem substituir tudo por ST?
Realmente, um país que nem munições tem, vai andar a adquirir uma aeronave para uma missão tão específica, em vez de uma aeronave mais versátil para aquela missão, e tantas outras.