A Espanha tem un problema de identidade, concordo...
O que existe hoje é uma grande Castela, não posso concordar... se calhar nas origens, mas agora não. Muitas outras regiões têm mais poder e influência que Castela, em a Espanha de hoje.
Em primeiro lugar, como é óbvio eu faço menção à Castela Histórica e não a alguma das provincias castelhanas subdivididas em autonomias.
Quando após a morte de Franco, se começou a desenhar a Espanha democrática, achou-se por bem diluir Castela em várias autonomias de forma a que nenhuma das nacionalidades se sentisse oprimida pelo fato de que Castela representava uma maioria clara da totalidade do país.
Mas de resto, a questão de Castela se achar com o direito a ser Espanha ou a representa-la, é mais uma vez histórica e mais uma vez, até o próprio Luis Vaz de Camões faz referência a esse facto nos Lusiadas quando diz:
Tem o Tarragonês, que se fez claro
Sujeitando Parténope inquieta;
O Navarro, as Astúrias, que reparo
Já foram contra a gente Mahometa;
Tem o Galego cauto e o grande e raro
Castelhano, a quem fez o seu Planeta
Restituidor de Espanha e senhor dela;
Bétis, Lião, Granada, com CastelaPortanto, há um grave problema de nacionalismo na peninsula, e esse problema é o do nacionalismo castelhano.
Por volta da mesma altura em que se forma a Espanha Bourbónica, há curiosamente uma união que forma o que hoje conhecemos como Reino Unido.
A Grã Bretanha que hoje conhecemos, provavelmente existe porque os ingleses acharam que a única forma de convencer a Escócia a uma união com a Inglaterra era a de dar o trono a um escocês.
O que teria acontecido se as coroas de Aragão, Valencia e Castela tivessem sido oferecidas ao rei de Portugal ?
Não sabemos, mas podemos adivinhar...
Qual era aqui o problema ?
Como sempre a nobreza e a aristocracia terratenente Castelhana.
Ainda durante o periodo da União Dinástica se considerou a possibilidade de transferir a capital para Lisboa, já na altura a maior cidade da Hespanha.
Mas a aristocracia castelhana, vivia nos seus castelos e mansões senhoriais e não estava concentrada. Ao mesmo tempo, a aristocracia e burguesia portuguesa estava completamente concentrada em Lisboa.
Em Castela achava-se que, se o rei se mudasse para Lisboa, ele seria completamente controlado pelos portugueses e que os interesses de Castela seriam secundarizados relativamente aos dos castelhanos.
Na altura dizia-se que, se o assento do rei for para Lisboa, o império crescerá, se for para Barcelona, estagnará, se for para Madrid, definhará.
Os castelhanos nunca quiseram abrir mão de algum do poder que detinham, e isso resultou na realidade a que chegamos nos dias de hoje.
A ideia de Castela e Espanha fundiu-se - ainda que à força - e curiosamente, depois de a expressão Ibéria, ter aparecido nos escritos, a principal companhia aérea da Espanha, em vez de se chamar Hispania, foi baptizada como Ibéria ...
Não deixa de ser engraçado.
De resto ...
A realidade é que nunca houve tão grande integração entre as várias economias peninsulares como agora, com a União Europeia. Isto não acontecia desde provavelmente o periodo romano após a pacificação da Lusitania.
Hoje até a mesma moeda temos, por isso, dificilmente haveria razões para maiores proximidades.
O Benelux estabeleceu exemplos que posteriormente foram ultrapassados com tratados como Maastricht ou Lisboa.
Logo, as relações entre os países peninsulares são ditadas por Bruxelas, e é melhor que continuem assim, porque no dia em que forem ditados por outra capital, essa só poderia ser Madrid, e isso, os portugueses nunca aceitariam.