Florbela Costa. "Por incrível que pareça, muitos dos processos de fabrico dos motores do helicópetro de Marte são manuais"
Tem 32 anos e liderou a equipa que desenvolveu os motores do helicóptero que esta semana voou pela primeira vez em Marte. Acredita que, depois deste feito, se fica mais perto de se poder pensar em voos tripulados noutro planeta....
Mas foi satisfeita ou ficou chateada por não haver mais vagas na Força Aérea?
Na altura fiquei bastante desiludida porque queria mesmo muito entrar na Força Aérea. Hoje fico muito contente por ter tido o percurso que tive, de ter ido para a UBI onde aprendi imenso e fiz grandes amigos, por depois ter tido a oportunidade de entrar no CEEIa (Centro de Engenharia e Desenvolvimento, em Matosinhos) na altura em que entrei.
Uma semana depois de entregar a tese de mestrado.
Sim. Acabei por ter muita sorte.
Fiquei cinco anos e meio trabalhar no projeto de colaboração entre o CEEIa e a Embraer para o desenvolvimento do KC-390 e de depois tive esta oportunidade fantástica de vir para a Maxon, em Lucerna, e ter os motores para o helicóptero de Marte como o meu primeiro projeto.É isso que é surpreendente: uma engenheira nova, de 32 anos, estar à frente desse projeto numa grande empresa. Ficou surpreendida com essa responsabilidade?
Fiquei. O meu chefe apostou em mim. Mas é isso, só foi possível porque viu que tinha a experiência do CEEIa. Quando entrei no CEEIa éramos 20 pessoas a trabalhar no projeto com a Embraer, todos muito novos, muitos de nós recém-licenciados ou com mestrados, sem experiência profissional nenhuma. Foram cinco anos em que cresci imenso, tive diferentes posições e no final estava como gestora de projeto à frente de uma equipa de 25 pessoas nesse grande projeto da Embraer em que desenvolvemos o Elevator & Sponson do KC-390, que foi o maior projeto de desenvolvimento que Portugal teve na aviação. Para quem não percebe nada de aviões, estamos a falar de que parte do aparelho?
O KC-390 é a aeronave que vai por exemplo substituir o C-130 da Força Aérea Portuguesa, é uma aeronave muitíssimo grande, com 34 metros de envergadura.
Nós fizemos a barriga do avião, que contém as portas do trem de aterragem, que se chama Sponson. E fizemos o Elevator que é a parte móvel da asa traseira que controla o pitch (movimento em torno do eixo horizontal) do avião, é um flight control (superfícies de controle de voo) da aeronave.E estava a gerir uma equipa com 26 anos.
Sim, tive muita sorte e acabou por ser uma grande experiência. E isso permitiu-me depois candidatar-me a este trabalho de gestora de projeto na Maxon, apesar de ser muito mais nova do que as pessoas que trabalham comigo.
E como é que isso foi visto? É um ambiente com muita competição ou correu bem?
É um ambiente muito saudável, nunca senti por parte dos meus colegas alguma inveja. Todos trabalhamos em projetos interessantes. Na altura o meu chefe estava a trabalhar no programa ExoMars, que foi adiado para 2022. Tinha outra colega, também mulher, que estava a trabalhar com uma equipa nos motores do rover Perseverance. Na prática temos todos projetos tão espetaculares que não há inveja, pelo contrário há uma enorme entreajuda. Somos uma equipa multicultural. O meu chefe é inglês, essa colega que coordenou o outro projeto é meio suíça e meio americana e tenho outro colega gestor de projeto alemão. Somos metade mulheres, metade homens. É um ambiente muito diverso.
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