Precipitação do Kremlin pode ter consequências catastróficas, diz analistaA Rússia tem o direito moral total de reconhecer a independência da Abcásia e da Ossétia do Sul, mas este passo terá consequências catastróficas para Moscovo, considerou esta segunda-feira Anatoli Adamichin.
«Os dias passados mostraram que a Rússia não deixou dúvidas de que responderá de forma extremamente dura a qualquer atentado aos seus interreses. Os militaristas georgianos receberam uma lição pesada. O mundo reagiu de forma diferente a ela, mas ela foi compreendida por todos», escreve o antigo vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia no diário electrónico
www.Gazeta.ru.
Defendendo que a Rússia tem todo o direito de apoiar a Ossétia do Sul e a Abcásia, chama a atenção para que, «do ponto de vista do Direito Internacional, isso é mais complicado, porque ele apresenta dois princípios: integridade territorial e direito dos povos à autodeterminação, não dando prioridade a nenhum».
Segundo ele, «os Estados Unidos e outros países ocidentais, sozinhos ou nas fileiras da NATO, violaram tanta vezes o Direito Internacional que este se dividiu em dois: o direito dos compêndios e da Carta da ONU e as regras de comportamento que são estabelecidas para os países da NATO (mas não para os outros) pelos próprios».
«No presente caso, a Rússia jogou segundo as regras ocidentais, adaptando o Direito Internacional às suas acções», considera.
O diplomata russo defende que, não obstante o direito moral e «as novas regras internacionais», a Rússia não deve reconhecer a Ossétia do Sul e a Abkházia «quando tem lugar uma polémica agudíssima entre a Rússia e o Ocidente... próxima do confronto aberto».
Anatoli Adamichin frisa que a precipitação da Rússia terá consequências pesadas para o país.
«Provocaremos um trauma sério nos georgianos simples... As pessoas podem estar descontentes com o seu Governo, mas ficam do lado dos seus dirigentes se uma potência estrangeira se ingere nos assuntos do país», refere.
«A nossa decisão, continua, não agrada a muitos na Comunidade dos Estados Independentes e, antes tudo, agudizará as relações com a Ucrânia».
A decisão de Moscovo poderá também aumentar a campanha anti-russa nos EUA e contribuir para a vitória do republicano MacCain sobre o democrata Obama.
«A agudização joga sempre a favor dos falcões republicanos», sublinha.
«Não se pode desprezar também a reacção da União Europeia, o nosso principal parceiro económico no Ocidente. Numa situação de 'cabeça contra cabeça', é difícil esperar que a UE vá neutralizar as surpresas americanas», acrescenta.
Adamichin prevê que o Kremlin irá desagradar à China «porque para ela a integridade territorial é um problema» e terá problemas com a Sérvia.
«Consideramos sempre que o Kosovo é um erro crasso de Washington e seus aliados, e vamos seguir o cenário kosovar», precisa.
«Por fim, considera, a nossa decisão precipitada de reconhecer a Ossétia do Sul e a Abcásia pode provocar uma onda de separatismo e terrorismo no Cáucaso».
TSF