A quarta grande guerra não tem armas e disputa-se no fundo do mar
Portugal entregou um pedido formal para ganhar território. Os negócios das profundezas valem ouro. A corrida começou.
O cenário é feio, mas é muito valioso. Tão valioso que Portugal, Rússia, China, Malásia, Filipinas e mais três dezenas de países, querem ter direito a mais quilómetros de mar. O objectivo da disputa não é o de encher barcos com turistas e levá-los a passear longe para ver corais ou peixes coloridos. A atracção encontra-se a grande profundidade e nem todos os turistas podem gostar da paisagem. A luz é ínfima, o silêncio é arrepiante e alguns seres vivos que ali habitam podiam entrar num filme de terror: tapetes de bactérias, seres parecidos com minhocas e quimeras - peixes com um aspecto bastante estranho e que poucos teriam coragem de saborear, mesmo servido num restaurante de luxo.
É no meio desta paisagem assustadora que se encontram verdadeiras preciosidades. Até pode haver cofres cheios de ouro, moedas e jóias perdidas em navios submersos. Mas os países que reclamam a extensão da plataforma para além das 200 milhas marítimas não são caçadores de tesouros. Ou melhor, até são. Mas estes tesouros podem ter forma microscópica. Eles procuram minerais e moléculas para serem utilizados na indústria farmacêutica, níquel, cobalto, manganês, cobre e energias fósseis como o petróleo ou o gás. Quem tiver mais território marítimo terá mais êxito na exploração destes recursos. E isso vale dinheiro. Mais dinheiro do que os objectos encontrados no Titanic e leiloados pela Christie´s.
Um relatório das Nações Unidas estima que o mercado mundial da indústria farmacêutica assente em recursos marinhos valia 643 mil milhões de dólares em 2006. Em 2005, as vendas de produtos com substâncias vindas do fundo do mar para combater o cancro ultrapassavam os mil milhões de dólares. Por exemplo, um medicamento para o tratamento de doentes com Sida, baseado nestes recursos, rendeu 23 mil milhões de dólares. Uma boa parte deste mundo submerso está ainda a ser explorada pela indústria das enzimas e dos cosméticos. Mais atraentes para o sector energético são os hidratos de gás. Acredita-se que contenham o dobro da energia de todos os outros combustíveis fósseis existentes. "É um investimento muito importante no futuro. Se os recursos a nível terrestre estão ameaçados, os países viram-se para o mar", diz Marina Cunha, investigadora da Universidade de Aveiro.
Diário Económico