« em: Setembro 21, 2009, 05:18:56 pm »
Reportagem da revista «Exame Informática» do mês de Setembro de 2009
A origem dos tiros
A Skysoft está a desenvolver uma plataforma que promete estimar a localização de um sniper três segundos depois do primeiro disparo
As guerras seriam menos perigosas se os soldados pudessem saber de onde vêm as balas. Com base neste princípio, a Skysoft começou a desenvolver uma solução tecnológica que permite apurar, em ambiente urbano, a localização de um atirador três a dez segundos depois de ter disparado o primeiro tiro. O projecto tem a denominação de Multi Sensor Anti Sniper System (MUSAS) e está a ser desenvolvido através do Programa de Investimentos para a Protecção das Forças Armas, da Agência Europeia de Defesa (AED). Recentemente, a Skysoft apresentou à AED os primeiros resultados da investigação. Em 2010, o primeiro protótipo deverá começar a ser testado com soldados. O lançamento está previsto para 2012.
Co-financiado a 50% pela AED e promovido pelo Ministério da Defesa português, o projecto MUSAS tem como objectivo desenvolver uma solução que só pode ser aplicada nos exércitos mais sofisticados, cujas fileiras são constituídas por soldados equipados com comunicações sem fios, GPS, sensores acústicos, computadores ou veículos robóticos. Com base nesta informação, os responsáveis da Skysoft querem criar uma ferramenta que consiga estimar a localização de atiradores inimigos com margens de erro de centímetros e uma taxa de sucesso de 95%, após o primeiro disparo.
«O MUSAS tem como objectivo fazer a integração dos dados obtidos por todas estas tecnologias que já são usadas em cenários de guerra. Mas para isso temos de criar uma ferramenta que permita distinguir, a cada momento, a informação útil da informação inútil. Trata-se da parte mais crítica do projecto», explica José Neves, responsável pelo Departamento de Segurança, Defesa e Aeroespacial da Skysoft.
O MUSAS destina-se a cenários de guerra assimétrica, onde um exército mais numeroso e bem equipado depara-se com a resistência de forças monos convencionais Antes de dar início ao projecto, a Skysoft reuniu com responsáveis das Forças Armadas de vários países europeus, a fim de identificar os principais constrangimentos e necessidades de um soldado – ou de uma companhia inteira – durante as batalhas.
O warkshop realizado em 2008 ajudou os técnicos da Skysoft a chegar a uma importante conclusão; por muito sofisticada que seja a plataforma criada rio âmbito do MUSAS, terá de haver sempre um equilíbrio entre os benefícios da informação distribuída em tempo real e o peso e a quantidade de equipamentos electrónicos que é viável transportar e manusear durante uma batalha.
O SOLDADO DO FUTURO
Desde o início, que o projecto MUSAS tem por objectivo assegurar a integração com o conceito de soldado do futuro, que tem vindo a ser desenvolvido pelo Ministério da Defesa. O que, na prática, significa que a futura plataforma tem por pressuposto a existência de militares equipados com dispositivos de localização por satélite, comunicações de voz sem fios que podem ter um alcance até l quilómetro, sensores acústicos e um dispositivo que pode ser um PDA, mas também pode ser um ecrã incorporado na farda, caso a evolução tecnológica e os níveis de funcionalidade mínimos o permitam.
O projecto prevê ainda que o oficial que comanda a companhia esteja equipado com um netbook que pode fornecer mapas e dados sobre posições de forças amigas e inimigas, bem como dados de âmbito social, étnico, histórico ou os sempre importantes relatórios redigidos pêlos serviços de inteligência.
A solução proposta pelo MUSAS contempla também a participacão de veículos, alguns tripulados e outros que são autómatos geralmente usados como batedores. Em ambos os veículos, vão ser instaladas câmaras de visão diurna e nocturna, bem como radares.
Como manda a tradição entre os militares, o projecto tenta seguir a máxima de "um por todos e todos por um", tornando cada soldado um colector de dados que ajuda o sistema central a fazer estimativas mais precisas sobre a origem de um disparo. E por isso, o MUSAS prevê apresentar a cada soldado uma primeira previsão sobre a origem de um tiro três segundos depois do disparo, seguida de uma segunda previsão dez segundos depois desse mesmo disparo.
Enquanto a primeira estimativa tem apenas em conta os dados obtidos pelos sensores acústicos de cada soldado; a segunda é o resultado da estimativa do computador do comandante a partir de dados obtidos por todos os sensores, câmaras e radares usados pela companhia.
PREVER O IMPREVISTO
Os técnicos da Skysoft não têm dúvidas: O MUSAS só será viável se for encontrada uma forma rápida e simples de distribuir e interpretar a informação. O que impede o recurso a soluções que não sejam funcionais para alguém quem anda de arma ao ombro e, muitas vezes, já transporta múltiplos equipamentos e não tem muito tempo a perder com excesso de informação.
A redução do número de mortos e feridos é o objectivo primordial de todo o projecto que a Skysoft está a desenvolver para a AED. Um sniper dispara e depois esconde-se no meio da multidão ou em ruas e edifícios. No caso de uma companhia de soldados disparar, há sempre o risco de fazer baixas entre os civis. Além disso, a acção dos snipers pode ter um efeito negativo para a motivação dos militares, refere José Neves.
Como é fácil de depreender, o portátil do oficial é uma das peças chave do projecto MUSAS.À semelhança de outros equipamentos usados pêlos exércitos mais avançados da actualidade, os responsáveis da Skysoft acreditam que a rapidez de inovação do sector tecnológico vai permitir, em breve, o aparecimento de máquinas que são, simultaneamente, resistentes ao choque e têm grande capacidade de processamento e memória. Com o tempo, os inimigos vão perceber corno funciona esta solução e vão tentar criar mecanismos que pioram ou desactivam as comunicações de uma companhia que use uma solução corno a proposta pelo MUSAS. Mas quem for o primeiro a chegar ao campo de batalha com esta tecnologia vai ter sempre uma vantagem, conclui José Neves.
O QUE SE SEGUE
VER O ATIRADOR ANTES DO DISPARO
O projecto MUSAS também tem em vista ferramentas que prevêem a localização do atirador antes do primeiro disparo. José Neves prefere não avançar detalhes sobre esta vertente de investigação, até porque a prioridade é mesmo identificar a posição de alguém depois do primeiro disparo: «Localizar alguém depois do primeiro disparo é muito importante. Localizar alguém antes do primeiro dispara será excelente. Mas só será possível se criarmos sistemas que não tenham demasiados falsos alarmes.»
OS EXPLOSIVOS NA MIRA
O MUSAS não contempla a localização de explosivos, mas a Skysoft já propôs ao Ministério da Defesa a criação de um laboratório portátil contra bombas artesanais.
PROTECÇÃO DE INDIVIDUALIDADES
A solução desenvolvida pela Skvsoft também poderá revelar-se útil na protecção de pessoas em visitas a cenários urbanos hostis.
CUSTOS E TESTES
O projecto MUSAS ficou orçado em 5,7 milhões de euros. A fase de desenvolvimento deverá terminar a meados de 2010 A solução deverá começar por ser testada em carreiras de tiro do Exército português.